segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Napoleão é um ovo podre

O Napoleão não fez o trabalho de casa. Ainda não li Os Miseráveis até ao fim, mas sei que esta será a conclusão mais importante que deles vou poder tirar.

Estava eu muito bem a ler o livro quando o Vítor Hugo decide começar a contar a história da batalha de Waterloo. Fiquei muito contente: Waterloo é mais um daqueles grandes virar de página da História Europeia e portanto um marco da identidade partilhada do velho continente. Além disso, fica a uns 40 km aqui de Bruxelas e diz que todos os junhos, no dia da batalha, lá fazem uma recriação histórica muito bonita e cheia de figurantes e tal. Já não me lembro por que é que não fomos lá o ano passado, mas havemos de ir este ano. Em princípio.

De qualquer forma, dizia eu que o Vítor Hugo começou a contar a batalha de Waterloo. Como é que foi, como é que não foi, de onde é que veio um batalhão, por onde é que entrou a infantaria e a cavalaria e não sei quê. Às tantas, diz ele:

"If it had not rained in the night between the 17th and the 18th of June, 1815, the fate of Europe would have been different." 

Arrebitei logo o ouvido (não obstante o facto de estar a ler. Mas adiante):

"A few drops of water, more or less, decided the downfall of Napoleon."

Olha que curioso, ironias do destino, hein, como os acasos deitam abaixo super-homens como o Napoleão...

"All that Providence required in order to make Waterloo the end of Austerlitz was a little more rain, and a cloud traversing the sky out of season sufficed to make a world crumble."

Foi quando eu li este "a cloud traversing the sky out of season" que se fez luz e eu desatei às gargalhadas. Porque, a sério, isto é tão caracteristicamente belga e tão igualzinho ao que eu penei o ano passado que só pude comiserar. Ora então, o grande Generalíssimo, super-mestre-génio-militar senhor Napoleão é derrotado por uma chuvada fora de época. Na Bélgica. 

Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha!

O senhor Napoleão devia saber que na Bélgica não há chuvadas fora de época. Qualquer altura do ano é boa para cair chuva - e não interessa que nos quinze dias anteriores tenha estado um calor de morrer (o que também é muito difícil). Não interessa que tenha estado um sol magnifíco MEIA-HORA antes do acontecimento: há sempre, a toda a hora, em todos os dias de todo o ano, a forte probabilidade de desatar a chover. Exceto em janeiro, que por causa do frio é mais provável que neve.

Eu sei que ele deve ter escolhido muito bem o dia e o mês para reduzir fortemente as probabilidades da água a cair do céu, embalado lá pela noção da terra dele de que as estações fazem sentido e que o tempo se comporta normalzinho e que no verão não chove. Errou foi no território, pronto. 

Diz que depois aquilo era só lama e a artilharia não conseguia avançar e que depois havia um vale que, por causa da chuva, estava meio inundado e os soldados não repararem que, bom, era um vale, e caiu tudo por ali abaixo. 

Ora então, parece que o tempo bipolar belga livrou a Europa de ser dominada por um déspota. (O Vítor Hugo discorda; diz que quem ganhou Waterloo foi a contra-revolução, as monarquias, o conservadorismo, e quem perdeu foi a Revolução Francesa e a Liberdade. Mas que raio de liberdade é que pode haver com ditadores que se auto-intitulam "Emperator", pergunto eu. E o Vítor Hugo também diz que o Napoleão só perdeu a guerra porque Deus não queria rivais, e o Universo estava a ficar demasiado desequilibrado, de tão divino e maravilhoso que o Napoleão era, e não por mérito do Wellington, que era só razoavelzinho. Por isso o seu juízo é claramente enviesado).

Espero que no dia 18 de junho em que eu vá a Waterloo, seja de que ano for, esteja a chover, que é para a experiência ser completa e extremamente hilariante. Só assim a recriação histórica estará completa.


 

S.

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