quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Fez-se luz na minha vida sedentária

Engraçado como o corpo humano se vicia em exercício. 

Há nove meses, eu era a pessoa mais sedentária que conhecia e afirmava terminantemente que exercício físico não estava entre as minhas prioridades. Estava empenhada em mil e uma coisas mas o mexer-me para além do trajeto casa-paragem de autocarro/trabalho-paragem de autocarro era mentira. 

E nunca pensei que seria Bruxelas que me iria mudar. A capital belga não é particularmente plana nem de avenidas largas, não é dominada por bicicletas (ainda...) e portanto não havia razão para ser diferente de Lisboa. Mas a verdade é que fui sendo seduzida aos pouquinhos pela conveniência que é andar de um lado para o outro. Literalmente, andar de um lado para o outro.

O medo de que com a troca de local de trabalho eu ficasse sem a minha caminhada diária de uma hora fez-me inscrever imediatamente no ginásio. Mas os transportes demasiado indiretos e o hábito de caminhar que estava mais entranhado do que eu alguma vez acreditei ser possível fizeram com que as pernas se mexessem quase de seu acordo em direção a casa. Daí à bicicleta foi um pulinho. E o ginásio, para minha enorme surpresa, continuou local frequente de passagem, e o ritual do exercício+banho+caminhar-para-casa-a-pé-desempenada-e-a-levar-com-o-ar-fresco-do-fim-da-tarde, tornou-se revigorante.

Mais: recentemente cheguei à conclusão que já não consigo andar de transportes. Maça-me profundamente. É o autocarro que para nos sinais vermelhos, nas paragens, no trânsito e eu que começo a bufar, tentando calcular mentalmente onde é que eu já podia estar se tivesse escolhido ir a pé. Ou, melhor ainda, de bicicleta. É o desconforto e o stress de ter tanta pessoa à minha volta num espaço pequeno e fechado, o cheiro, o ar abafado dos metros e saturado de tantas respirações. 

A bicicleta provou-me que não estou em forma. Qualquer inclinaçãozinha se reflete na minha respiração e no esforço que as pernas fazem, e não consigo fazer todo o caminho para o trabalho montada no selim. Mas o mais entusiasmante é ir notando, pouco a pouco mas cada dia, que consigo um bocadinho melhor. E saber que um dia vou conseguir (hoje, no caminho para casa, foi a primeira vez que o fiz sentada na bicicleta todo o trajeto, apesar de ter parado numa subida para recuperar o fôlego).

Mas agora outro elemento se juntou à equação: a chuva. É verdade que o que não faltou durante os cinco meses de caminhadas foi chuva. Mas uma pessoa abre o chapéu, encolhe-se debaixo dele e vai caminhando até casa. Agora, de bicicleta torna-se um problema. E a razão é óbvia: não posso ter chapéu aberto enquanto conduzo a bicicleta (se bem que hoje vi um ciclista a fazer isso... Receio não ter a destreza para tal). Isto a juntar à deslocação do ar e à chuva a bater na cara, facilmente se vê que a bicicleta se torna o transporte menos ideal. 

E, sabendo o que já sei sobre o clima bruxelense, chuva é coisa com que contar todos os dias. Ou quase.

É por isso que agora ando de olho numa coisa destas:



Tirando o facto que fico a parecer um dementor, é uma coisinha extremamente útil. Sendo que uma pessoa vai sentada na bicicleta e que eu tenho metro e meio, aquilo acaba por cobrir as pernas também. Serei toda eu uma bola impermeável. Uma bola azul, amarela ou vermelha, ainda não decidi.

Quero muito continuar esta vaga de meximento múltiplo. Ginásio, caminhar, bicicleta. Agora só faltava começar a gostar de legumes e ser alérgica a chocolate e tornava-me um modelo de vida saudável :D



S.

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